segunda-feira, 6 de agosto de 2012

céu sem estrelas

toquei a superfície d'agua gelada
senti o alento poético por segundos rápidos
na terna solidão que se restaura e desestrutura
e que se cruza agora
com a austeridade dos planos de outrem;
seja honesta comigo
um sorriso vale mais que mil estrelas
e sair à noite sob um céu sem estrelas
sem mil sem três marias sem nada
apenas seu sorriso e a breve necessidade do desvio
na cidade de tristezas
da infâmia e despejos da desonra
sobre escalar o amor e ir de encontro a esse mesmo céu
sem estrelas sem vida sem sobras
céu descravado de balas
e enfim revelar-se num cruzamento
o amplo significado de transcender
a célebre imersão a um sorriso
que se exibe como fogos de artíficio
explodindo na abóboda
sem estrelas sem sobras sem nada;
mas eu vi os resíduos de uma relação acabada
queimarem como velas
na santa discrição de cada dia
pulei corda nas proximidades de uma via láctea
presenciei o relento da noite em lágrimas
vivi Daniele Dominici em 1972
cravei na pele morena as levianas sensações da ingenuidade
fugi do que é real
sonhei interminavelmente sob o céu sem estrelas
cruzei o mar morto sob olhos de desconfiança
amei o sentimento sob falsas ilusões
dormi sob o doce carinho do reconhecimento
morri eternamente viciado na sua idiossincrasia
e nasço de novo,
agora que por fim quebrei a superfície d'agua gelada
escalei o amor e fui de encontro àquele céu
sem mil sem três marias sem fogos
sem estrelas
só você e um sorriso. 

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bonito

Anônimo disse...

Isso é que é texto. Nada importa depois de se ler isso.