terça-feira, 7 de agosto de 2012

escritos de uma aula de história da arte

Minutos antes de cruzar o portão de entrada, Julio devaneou. Entre segundos sonhados, ela atravessa o mesmo portão. Logo atrás dela, Julio acompanhava seu balanço sensível, sua cartela de delicadeza firmada em gestos simples de inocência. O passado lhe recorria ao passo que o balanço terno, a harmonia indubitável, o deixavam subitamente imerso em seus devaneios anteriores. Um rolo de película velha, destratada, rodava em sua mente sequelada pelo vício doce de sonhar. Imaginou então uma outrora diferente e novamente arrependeu-se de suas atitudes passadas, chagas abertas no nascimento de um amor predestinado à tragédia, à iminência do sofrer em silêncio, do viver sob expectativas erradas e do crer (errôneamente) no tempo como cicatrizador de feridas da emoção.

No elevador, ela notou a presença de Julio. Ao entrarem, ela se vira e seus olhos vão de encontro ao olhar distante do rapaz, a essa altura totalmente tragado ao mundo utópico dos sonhos. Ela está com uma amiga; ele está sozinho. Ela olha para frente, evita Julio; ele não sabe ao certo para onde está olhando. Sua própria presença poderia ser contestada: seus devaneios, variantes de um pretérito aparentemente esquecido, demonstravam um âmbito incomum ao desaparecimento, ao desejo de fugir e reconstruir uma nova realidade tão somente sua e dela.

A porta se abre, ela sai primeiro e Julio segue atrás, incrivelmente impostulado à admiração daquela figura santificada de outros tempos, à imersão aos devaneios e ao anseio de voltar ao passado como forma de correção e a consequente negação ao arrependimento de Julio perante a outrora dolorosa que até agora lhe recorda más lembranças. Seu devaneio é como um jogo de amarelinha: o salto sobre o obstáculo desenhado em solos de ingenuidade, a pedra jogada ao acaso, a mesma vontade de brincar após o erro para enfim ir de encontro ao céu.

Ela entra em sua sala e a vida segue.

Nenhum comentário: