terça-feira, 22 de junho de 2010

éramos eu e você

olhando o horizonte e cativando ideias silenciosas, ouvindo somente nossos pensamentos pretensiosos e, afinal, pensando, sempre frente a frente com o pôr-do-sol decadente da bela vista a qual nos encontrávamos encarando. eu pensava em agarrar-te a mão, e você pensava que éramos amigos e nada mais. eu pensava em beijar-te, e você pensava em conversar. eu pensava no amor, você queria ir embora. só mais um pouco, eu insisto, o embaraço há de ajudar-me ao menos uma vez,

e pronto!, aperto firmemente sua mão finalmente, desvio meu olhar do poente e sigo-os em direção ao seu olhar, que por sua vez é escondido pelas pálpebras, as que escondem a verdade. meu coração palpita rápido, você respira fundo; aproximo minha boca da sua - fecho meus olhos como você - e encosto meus lábios aos seus. sinto meu coração parando, o miocárdio explodindo e uma felicidade contagiante invadindo minha percepção. éramos eu e você naquele romance nobre e (por que não?) imaginário.

domingo, 20 de junho de 2010

in the hot sun of a christmas day

dias após a morte de clara crocodilo
nasceu subitamente maria bethânia
bradou aos céus for 15 Steps
um leãozinho aproximou-se e disse
esse é o último romance
tire seu piercing do caminho
e is this it.

o dia do velório
i think i'm gonna be sad
ao som de the sound of silence
alan moore entristeceu
nasce uma estrela
boris grushenko morreu feliz
mas como, onde, o quê, como assim
como 2 ao cubo é 8 lados
geometria deltoriana
cigarros e cafés
bebidos e fumados por dentre
uma tarde sem valor
morte da criação brasileira
sabemos que você é um inútil
sem repúdio
ou quaisquer cracias
as bitucas exalavam o cheiro
a fumaça escondia nossa vergonha.

como se desesperadamente
chegasse como não quer nada
como se caísse
ou tropeçasse
no degrau da consciência
olho para mesa
vejo sangue derramado
um homem vomitando
sobre o leite esparramado
onde estará clara crocodilo
que sumiu, escapuliu?
morreu. the end.

domingo, 6 de junho de 2010

São Paulo 34 graus

a tarde era ensolarada e fazia uns 34 graus na cidade de São Paulo. Avenida Paulista e pessoas caminhavam transpirando por dentro das camisas fétidas e molhadas e rindo. divertiam-se os pedestres, que caminhavam pela única pretensão de caminhar e explorar a então celebrada avenida, agora tomada por um calor absurdo, capaz de fazer desmaiar aqueles que são fracos. o proletariado regozijava do tempo livre e andava nos longínquos calçadões, os mais conhecidos (ou usufruídos?) de São Paulo, suando e rindo.
No meio desta multidão, lá estava Zé Abraão, fraco, senhor de idade que passeava com sua neta de cinco anos para mostrar-lhe a beleza de Sampa sintetizada numa única rua (mentira, ele fora obrigado pela cara filha tão querida e amada). "ah, mas que calor está fazendo!". andavam, andavam, conheciam e exploravam o território comercial, e os raios de sol batiam sobre a testa calva de Zé Abraão, que bradava sussurros maliciosos e comumente insultava sua própria mulher, então falecida.
e o sol não estava para Zé Abraão, que pediu para a garota que se sentassem um pouco. sentado, inspirou e expirou lentamente, suspirou e sussurrou coisas que a pequena ingênua não foi capaz de entender. ele passava mal; já não aguentava mais permanecer naquela situação, transpirando tanto que "o suor acumulado seria capaz de encher o oceano Atlântico", pensava o velho.

é uma conspiração, um hediondo desafeto à minha pessoa. logo declaro, disse alto e erguendo-se, que está declarada a guerra.